A lebre e a tartaruga

05h02. Segunda-feira. Não, não acordei. Não dormi. A janela aberta, após muito tempo, para um mínimo de contato com o mundo exterior. Depois de meses me escondendo, o chamado do firmamento é mais forte que o receio da invasão dos olhos horríveis de gente mal intencionada. Aberta para a brisa fria da noite silenciosa. Todos dormem. A presença humana não me molesta. Momento de paz em que vislumbro o céu e algumas estrelas. A atmosfera da Primavera que chega me enche de paixão. Paixão pela vida. Paixão pura, paixão pela paixão. Um fogo perfumado por flores noturnas que transborda do meu peito apaixonado. Paixão sem foco. Paixão sem sujeito. Paixão religiosa, espiritual, devota. Paixão absoluta. Pudera eu encontrar alguém para amar desse jeito. 
E, junto a todo esse sentimento quente, mora uma semente de melancolia. De tristeza. De mágoa, profunda e úmida de lágrimas. Dos amores que não deram certo. Das cicatrizes que deixaram ao me machucar, ao irem embora levando parte de mim. Do Amor que não chegou. E que, talvez, eu nem tenha condições de receber.
Logo o dia vai raiar. Já ouço ao longe algum movimento dos humanos e de suas máquinas malditas. Fecharei minha janela, e adormecerei. Pouco, mas suficientemente para encarar o dia. Minha ansiedade insiste, aproveita-se de cada momento de distração para voltar a me envolver em seus tentáculos de tortura. Tudo o que mais quero é fugir dessa teia impossível, em que sempre estou emaranhada; às vezes mais, às vezes menos: mas sempre aqui, sob o véu invisível dos meus transtornos psíquicos. O véu que nunca deixa de me cobrir. Que me aparta do mundo. Que me poupa da realidade. Entorpece meus sentidos. Me tira as cores, me tira o tato, me tira a audição. Vivo anestesiada. Não sinto direito o mundo à minha volta. Resta-me crer que ainda encontrarei um modo de me sentir viva. De ser inteira. Presente. Energizada. Completa. Feliz.

Sendo mais prática: preciso estar presente AGORA. Aproveitar o que tenho AGORA. Tenho uma família maravilhosa. Amigos excepcionais. Uma casa belíssima. Uma vida mais que confortável. E faço o melhor que posso. Seja feliz, meu amor. Pense no amanhã, mas viva o hoje. Não se cobre mais, meu amor. Viva feliz. Você merece toda a felicidade. Não estrague a vida tão linda que você tem se açoitando. Deixe disso. Tudo ficará bem. Tudo está bem. Essa tristeza já não é mais sua. Faça o que quiser, meu amor. Está em suas mãos. Cada dia, cada minuto é uma construção só sua. É uma folha em branco cheia de possibilidades infinitas, que você pode escolher. Você não tem que sofrer, amor. Veja o quão longe você chegou. O quão pra trás ficou aquela não-Carolina transmutamorfoseada, triste, irreconhecível. Olhe pra você, meu amor! Que linda. Linda, linda de se ver. Você. É. Linda. E inteligente. Como é bom ter voltado a cultivar essa cabecinha tão fértil, não? Você é foda. Te amo. Te amo muito. Te amo demais! Tenho muito orgulho de mim mesma. Que eu me abrace todos os dias. E seja minha amiga sempre. Não minha carrasca. Devagar se vai mais rápido. Você não vai se perder, amor. Estou aqui. Não vou te deixar cair. Vai lutar pelo que é seu. Com otimismo. Com seu bom humor. De alto astral. Com muito amor e muito carinho consigo. Trate-se com carinho. Você merece. Amo você. Te amo, Carolina. Estou aqui.

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