Viva feliz com aquilo que você já tem.

Como eu enxergo a minha vida? Quem sou eu, e o que eu quero?

Carolina. Advogada em uma grande empresa. Vender minha alma pro capeta. Ganhar rios de dinheiro, a custa de muito estresse, de engolir muito sapo. Sentir adrenalina, ser reconhecida, vencer brigas. 

Carolina. Juíza. Concursada, após muito estudo e privação. 

Lili. Não é sobre isso que você quer falar. Onde, exatamente, a maternidade se encaixa nisso tudo? Como vou fazer malabares com isso e com uma criança? Nem sei do meu relacionamento. Bom. É. Um passo de cada vez. Eu estou ansiosa. Ansiosa, porque meu namorado já tem todos os meios materiais e estabilidade para empreender essa jornada. De se manter financeiramente, de morar sozinho, de ter filhos ou filhas. Ansiosa, porque estou no meu primeiro ano de faculdade, apesar de ser mais velha. Ansiosa, porque ainda nem sei o que quero na carreira. Ansiosa, porque ainda nem tenho um empreguinho básico que me permita manter meio aluguel para morar com ele. Bom. Isso é um ponto. Talvez você tenha que discutir essas coisas com ele. Eu amo o meu namorado. A quarentena não nos está ajudando, de fato. Mas chegamos à idade em que as coisas começam a acontecer de verdade. Eu quero morar com ele. Acho que esse é o primeiro passo.

1- arrumar um estágio ou emprego que me permita morar com meu namorado. Dividimos o aluguel e as despesas.

2- Não tem dois. Tem que esperar o um. Vocês ficarão bem juntos? Tem que ver se vai rolar ou não. Se rolar, ele tem o apartamento. Você vai querer morar lá? Provavelmente não. Eu não quero morar do lado da família dele. Ele gosta de morar na Bras Leme. E eu? Eu moro em um bairro sossegado. Longe do centro. Onde EU gostaria de morar? Não é porque é ele que tem dinheiro que é ele que vai decidir tudo. Não quero ser refém disso. 

0- Antes do um. Viver o agora. Olhar para a sua graduação, para onde ela está agora. Para suas possibilidades profissionais de agora. Eu não quero economizar dinheiro. Odeio economizar dinheiro. Não vou economizar dinheiro. Foda-se. Nossa. Eu tô muito ansiosa, muito sufocada. Comi demais, a comida está na minha garganta. Assim como minhas emoções. Aaaargh. Que desconfortável. Estou desconfortável. Comigo, com a minha vida, com a minha posição. Com ficar em casa. Com não ver meu namorado o suficiente. Com não comer direito. Com não me exercitar direito. Com não ver os meus amigos. O que está certo? Por que parei de me contentar com e de me sentir grata pelo que eu tenho? Ok, eu não vou engravidar agora, mas devo conversar desde já com o senhor futuro pai da criança. Ele realmente não pensou que eu ia ficar 6 meses em casa enquanto o bonito fica 5 dias corridos, né? Ha. Ha. Ha. Pode se mexer, queridão. Nada disso. Aliás, quem tá falando de crianças?! Temos que entender o nosso relacionamento por si só. 

Esse ano, fico só na escola de música. Pego matérias optativas. Não sei se consigo pegar extensões no meio do ano. Ainda não entendi o que é ser advogada, ou tive o gosto de qualquer carreira jurídica. Por enquanto, entendi o que é estar numa faculdade de ciências humanas. Quero cuidar da minha iniciação científica. Continuo aprendendo alemão. Estudo. 

Ano que vem, jogo as atividades musicais para os fins de semana. No máximo, para tarde da noite, sei lá. Tento arranjar um estágio no primeiro semestre. Ou será que seguro para o terceiro ano? Não sei. Precisarei começar a fazer escolhas. Escolhas que privilegiem o imediato e o a longo prazo. Por um lado, pode ser bom e estimulante já entrar de cabeça na vida jurídica de verdade. Por outro, talvez seja melhor tentar dar uma atenção especial à minha formação acadêmica nesses primeiros anos. A primeira opção me parece melhor! Viver muito no mundo das ideias e do perfeccionismo é um perigo mais que comprovado para mim. Jogar-me no mundo parece a mais prolífica e empolgante alternativa. Provavelmente fará, se bem sucedida, com que eu me sinta mais estimulada a me empenhar mais na faculdade. Começo a ver os requisitos para bolsas diversas. Desempenho acadêmico excelente. Será que dei conta de atingir isso? Calma. Veja o que deu esse semestre, e faça a calibragem de acordo com ele. Agora não é mais questão de "só passar". Se eu quiser uma carreira acadêmica, precisarei de, oh, surpreendentemente, um ótimo desempenho acadêmico. 

Ah, acho que fiquei mais tranquila. Então, plano para esse semestre: descansar nas férias. Pensar na minha iniciação científica. Pensar no meu plano de carreira. Olhar os sites dos escritórios grandes. Cozinhar receitas veganas, novas e deliciosas. Alimentar-me bem. Me encher de saúde e de energia boa. Fazer minha yoga, minha dança do ventre, meu jump. O mínimo por dia, que seja. Estudar alemão. Ler, ler por lazer, ler em busca de bibliografia para pesquisa. Tentar me conectar mais com meu namorado. Precisamos nos ver mais, conversar mais. Precisamos conviver, e nos alinhar quanto às nossas ideias de futuro. Não daqui a dez anos. Daqui a 2, 3, 4, 5 anos. 1 ano, que seja. 

Não olhe para o que você tem no dia de hoje, para sua casa, seu quarto, seus exercícios por aula no YouTube, para sua condição de estudante do primeiro ano de faculdade, como se fossem coisas temporárias que você quer deixar para trás. Não são. Queira estar aqui, agora. Queira estar na sua casa, nesse corpo que você tem agora, com essas flores que estão aqui agora, com essas pessoas e animais que te cercam agora. Queira ser você, Carolina, em quarentena nessa casa linda, com sua família maravilhosa, com seus bichos amorosos e peludos, com tudo o que você precisa para uma vida linda, saudável, feliz. Ambicione, sonhe com o futuro. Mas queira estar aqui e agora. Não descarte o que você tem por não ser perfeito; nada é, nem nunca será. Você não precisa comprar nada, não precisa pagar nenhum curso, não precisa perder 10, nem 15, nem 20 kg, não precisa de um celular com uma câmera melhor. Isso são obstáculos que você se põe, obstáculos que te impedem de curtir as coisas maravilhosas que você tem em mãos. Bora fazer 15 minutinhos de yoga ao ar livre, sob o céu. Bora cozinhar um prato bem colorido e saboroso, cheio de vida e de nutrientes. Bora ler alguma coisa bacana. Bora pesquisar algo legal. Bora assistir Netflix com a família. Bora, bora, bora! Bora viver, linda. O tempo trará o resto. Aproveite o que está aí. 

Vou fazer isso. Terminar esse ano lindão, me cuidando, cuidando do meu desenvolvimento no curso. Vou procurar um estágio legal no segundo ano. Dar um pulo na área privada, talvez na área pública, ver o que é que rola. Quando surgir a oportunidade, vou fazer um intercâmbio. Fazer o Winterkurs. Fazer um semestre fora. Um ano talvez seja muito. Quem sabe? 

Precisei de toda essa ginástica mental, de toda essa volta, para retornar ao meeeeesmo problema existencial de sempre. Comecei a me afligir, porque quero passar mais tempo com meu namorado. Ok, quarentena zoa o rolê. Mas, tirando isso, o fato dele não dormir aqui em casa é um obstáculo imenso. Não precisamos morar juntos para convivermos mais. Nosso convívio e intimidade não depende do meu desempenho financeiro, e sim da sua timidez e falta de desenvoltura. Já tive relacionamentos em que isso dava certo. Eu dormia lá, ele dormia aqui. Suave, sem estresse. Era a coisa mais natural do mundo. Participávamos da vida um do outro, fazíamos parte da família um do outro. Não precisávamos pagar motel ou pensar em morar juntos para termos uma vida conjunta. Eu dormia mais com ele que sozinha. Era fantástico. Agora, aqui, é difícil sentir que você faz parte da minha vida. Sim, nos falamos todos os dias, e isso é ótimo. Mas falta. Falta mais. Ainda falta. Eu te amo. Você me faz falta. Não quero esperar eu ter um emprego que me permita dividir os custos de morarmos juntos para poder ter você, para fazermos parte da vida um do outro. Isso vai demorar, ainda. Não quero essa pressão pra cima de mim. Quero namorar você. Você é bem vindo. Nossa. Que ficha que me caiu! UFA. Hahahahahahahahaha, só posso rir de alívio! HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!!!! É issooooooo!!!!!!!!! O problema é a qualidade do meu namoro! Namorar é bom, namorar pode, sim, ser o suficiente! Não é pela nossa idade que estou com pressa de qualquer coisa! Eu quero é transar mais, abraçar mais, beijar mais, ver mais Netflix com meu amor, dormir abraçadinha com ele, fazer nada ao lado dele. Estou na faculdade, e preciso pensar nisso como um desafio por si só. Se as coisas acontecerem paralelamente, aconteceram. Mas o nosso namoro precisa melhorar. Onde eu quero estar daqui a 1 ano? Estagiando. Estudando. Daqui a 2 anos? Me preparando para um intercâmbio. Estudando. Daqui a 3 anos? No intercâmbio, curtindo o fruto do meu esforço. Daqui a 4 anos? Prestes a me formar, em um estágio ou emprego que já seja a porta de entrada para meu emprego definitivo. Daqui a 5 anos? Formada, com 6 meses de carreira em algum lugar legal. Vou pensando se quero prestar algum concurso, se quero continuar meus estudos com um mestrado, um doutorado. Se, agora que colocada no mercado de trabalho, quero, finalmente, respirar fundo e pensar em ter filhos. Ah, que lindo. Pensamentos em ordem, emoções alinhadas. Posso dormir em paz. Boa noite, Carolina, minha linda!



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