Verbo de ação, voz ativa

Não lhe direi tudo o que se segue em tom de raiva ou de tristeza. Esteja eu em pranto amargo ou dizendo-lhe em pacífica sugestão, dá na mesma. Você não liga pra mim, para o meu bem estar, para as minhas necessidades. Você não corre atrás de mim. Você não se importa comigo. Mais uma vez, me sinto sozinha e desestimulada e triste. O que eu doo não volta. Eu peço algo. Você me garante, sem hesitar, que o terei. Que se esforçará para fazê-lo. Não digo que você não goste de mim. Mas você permanece imóvel. O que eu espero não chega. Os dias se passam, as semanas se tornam meses. Os meses se vão. Eu estarei lá para você, mesmo. Dobrando-me àquilo que você me impõe tacitamente. Não quero brigar, não quero discutir. Você não quer mudar nada. E só vai levando as coisas como já estão. Na esperança, talvez, de que com o tempo eu me adapte, que perca a gana por algo diferente. Ou, ainda, uma esperança mais remota, de que, em algum lugar de um futuro mítico, a solução do problema caia em suas mãos, contida numa arca dourada entregue por gorduchos querubins louros de bochechas coradas. Fazer um esforço ativo e constante não está em seus planos. O que eu declaradamente desejo não é sequer cogitado: suas palavras garantem uma coisa; suas (não) ações afirmam a pétrea verdade. Não há surpresa. Um engajamento em uma mudança, uma proposta nova. Nada dá em nada. Porque, para você, tanto faz. Eu amo você, e você toma esse amor por garantido. Você sabe que eu te adoro e que sou louca por você, e você me toma como eternamente ganha. Há quanto tempo que você se acomodou nesse lugar, do qual nunca sai? E, sendo sentimento algo que se retroalimenta, seu desentusiasmo matou meu ânimo de inanição. Meu tesão, que crescia e se desejava experimentar, definha agora, apático. Minha paixão chamejante que eu desejava compartilhar com você a toda hora já não passa de uma brasa meio morna. Nossos planos, pelos quais ansiava, me parecem agora enfadonhos e muito cansativos. Mais fardo que diversão. Pare de enganar a si próprio e a mim. Você vai assumir que não quer sair da sua zona de conforto, que não fará terapia, nem se proporá a experimentar minhas sugestões e desejos? Tudo bem, se sim. Apenas me diga. Você vai realizar ações que sejam mudanças estruturais de fato? Não quero mais respostas. Quero ações. Quero resultados. Quero movimento. Eu sei que você gosta de mim. Mas sinto que você não se esforça para me enxergar. Para enxergar meus sentimentos, minhas necessidades, meus desejos. Não me sinto vista, nem ouvida. Sou uma namorada invisível. Inaudível. Intocável. Os aspectos realmente importantes desse relacionamento mal existem. Não quero ficar ouvindo você falar do filme que você assistiu, do livro que você leu, do cachorro que está latindo para fora da janela. Quero que tudo isso se foda. Quero falar de putaria, dos problemas da sociedade, descobrir coisas que temos em comum. Quero falar de mim sem que você fique com uma cara de pavor de quem não sabe o que dizer. Quero falar de você. Não desse você superficial que não significa nada. Quero falar do você de verdade. Do você que está aí, em algum lugar, soterrado por toda a sua letargia e seus maneirismos ansiosos. Quem sou eu para você, Leonardo? E, honestamente, você tem condições de dizer, a mim ou a quem quer que seja, quem diabos é você?! Você não sabe quem você é. Você não faz ideia do que você gosta, do que você quer. E você não experimenta, não busca, não procura. Perdi o tesão de falar com você. Perdi o tesão de tentar me abrir e te fazer sentir seguro para se abrir também. Perdi o tesão de tentar puxar uma conversa erótica com você. Perdi. Perdi o desejo de tentar. Cansei. E estamos em um ponto meio perdido. Um ponto em que cansei de tentar. Cansei mesmo. Não tenho condições. Venha me buscar. Corra atrás de mim. Não me deixe sair andando. Lute por mim. Eu já fiz muito mais do que pude. E aprendi a não fazer mais. Eu não deixei de te amar. Eu te amo muito. Sinto uma sintonia especial com você. Você não me faz nada de mal. Você não me faz nada, e isso me faz um mal horrível. Eu levo nosso relacionamento muito a sério. Não apenas imagino, mas planejo uma vida com você. Fico imaginando, sozinha, como integrar possibilidades que façam felizes a nós dois. Eu não caibo no seu modelo pré-moldado de futuro, de vida a dois. Cansei de tentar te fazer sugestões com paciência. Se o faço com suavidade, você não leva a sério, não sente urgência, permanece acomodado. Se me aborreço e me torno agressiva, eu que acabo precisando te pedir desculpas. Ao me fazer repetir 100 vezes a mesma coisa como se você nunca tivesse escutado é como se eu fosse uma imbecil. É como se minha voz se afinasse até desaparecer no nada, nunca chegando a destino algum. Em nossa relação, minha voz apenas some no vazio. Minha garganta se fecha e meus olhos se enchem de lágrimas confusas. Cansei. Não há mais nada que eu possa fazer. Sinto que fui carregando tudo até esse ponto. Me sinto responsável e culpada. Está em suas mãos. Diga algo. Faça algo.

Comments

Popular Posts