Quero chorar, mas não consigo. Estou triste. Meio deprê. Naquele ciclo de auto piedade, de vitimização. Um pouco de vitimização, mas, em sua maior parte, autoflagelo. Ahhhh. Aquele momento em que parece que eu faço tudo errado. Em que eu faço as piores escolhas e sou um fracasso. O quarto. A casa. A mudança. Ser parte de algo. Escolhas. Escolhas. Eu queria um quarto só pra mim, e tive eu que sair da suíte dividida com minha irmã pra me enfiar no improviso daquele quarto desconfortável. Apertado. Tentei chamá-lo de aconchegante e transformá-lo, de verdade, no meu lar - e fiz o que pude, com honestidade. Tenho um pouco de ressentimento por ela ter ficado com esse palácio, durante tantos anos, e sinto vontade de chorar. Mas eu que quis sair, não é mesmo? Escolhas. Tantos medos e tantos padrões me retornam nesse momento de estresse, de fragilidade. Tantos trabalhos grandes para fazer. Prazos urgentes, apertados. Não tenho mais como adiar. Enquanto isso, excluo-me de grandes momentos da minha família. A casa nova da minha irmã, que deve estar linda, e que eu ainda não visitei. A cachorrinha nova da minha mãe, que é uma graça, e que meu irmão foi buscar e já curtiu tanto. Não bastasse, meu namorado está de férias há uma semana e não aproveitei o tempo livre dele ainda. Aí lá venho eu, me culpar por deixar as coisas para a última hora. Dizendo a mim mesma que eu poderia ter evitado essa situação. Que eu sou culpada por estar excluída desses momentos especiais. Estão todos se divertindo, saboreando os frutos que são conquista de longos meses de batalha. E eu estou aqui. Sentada em um colchão improvisado no meio do meu novo antigo quarto. As tralhas da minha irmã ainda recheiam cada gaveta, cada cantinho de cada armário. Eu nem poderia fazer a minha mudança total agora, mesmo. Tenho os trabalhos para fazer. Nem escrevendo esse texto eu deveria estar. Deveria estar lendo o enfadonho livro sobre o qual devo entregar um trabalho amanhã. Enquanto desejo me vangloriar por estar realizando tamanhas tarefas em tão pouco tempo, também me julgo e me culpo por não tê-las feito antes, com mais calma. O que me dá muito ódio. Não de mim, mas desse tipo de pensamento. Foda-se. Um grande foda-se. Eu posso escolher fazer as coisas no último momento. Mas isso parece que virou um palavrão, uma ofensa grave. Parece que ouça a voz da minha mãe, do meu pai, do meu namorado, até. "Não pode deixar pra última hora". "Quem mandou deixar pra última hora?". Julgamentos. Culpa. Julgada. Sentença: culpada. Consegui chorar, aliás. Acho que já estou mais apta a voltar para o livro. Aliás, não posso deixar de notar que é impressionante o quanto esse movimento vai puxando outras coisas: culpo-me por uma coisa, e, logo, estou me culpando e remoendo toda e qualquer coisa que não tem nem nada a ver com isso. É um padrão que eu preciso quebrar. Quero tanto romper com isso. AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH.

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