Desamparada

 Reflito. Talvez eu apenas esteja cansada. Talvez não. Esperemos. Tenha eu paciência, e aguarde complacente para constatar se não é uma sensação momentânea.

Não estou sentindo firmeza. Entre nós. Nesse relacionamento. Não sinto firmeza de você. Não sinto segurança. Talvez você já tenha me amado mais, quando, mais jovem, inexperiente, ainda mais tímido, tenha se apaixonado perdidamente por mim. Quando eu, mais jovem, mais vaidosa, talvez mais bonita e mais extrovertida, era uma fascinante novidade. 

Acreditei, por um momento, que você tivesse se aproximado de mim sabendo o que queria. Que você ainda me amava, e me queria de volta, para sempre. Que ainda era perdidamente apaixonado por mim. Que queria se casar comigo, criar uma família comigo, planejar um futuro comigo. Mas agora não tenho mais essa certeza. Agora, até duvido disso. Talvez você só quisesse uma pegação com alguém familiar. Uma escolha relativamente segura no mar infinito de possibilidades duvidosas, do processo árduo e cansativo de conhecer alguém novo. 

Achei, no começo, que você não confiasse em mim - visto que terminei duas vezes com você. Visto que eu fui embora. Agora, acho que você simplesmente não gosta tanto assim de mim. 

Talvez você tenha provado um pouco mais do mundo, e descoberto que eu não sou a única mulher incrível que existe por aí. A adoração do passado já não existe mais. Bom. Mesmo ela não era suficiente pra te fazer sair da sua prisão interna e acordar para a vida, e fazer algo de diferente, fazer algo por mim. Mesmo seu sentimento não foi suficiente para me impedir de ir embora, para te fazer fazer algo.

E eu, que não estou acostumada a me sentir insegura, me sinto um tanto insegura. Quanto à sua ex, não por considerá-la uma ameaça ativa. Mas por considerá-la a constatação de que eu não fui a única pessoa especial na sua vida. Penso em quem ela é, no que nela a fez especial aos seus olhos. Penso em como você me chamou pelo nome dela - e, mesmo passados meses, tendo eu certeza de que me esqueceria disso despreocupadamente, em como isso ainda me aborrece. Agora, penso em como você está me levando para uma cidade na qual esteve com ela! Em como, talvez, você se lembre dos momentos especiais que lá passou com ela. Cássia. A garota cujo rosto desconheço, cuja história não sei qual é. Mas cujo nome você deixou escapar, em um momento de ternura entre nós. Entre nós, Leonardo. Carolina e Leonardo. Não Leonardo e Cássia. Argh. Até me vem uma ânsia de vômito. Foi duro escrever isso. É duro reler isso.

Agora, leio o que escrevi até aqui, e sinto aquela tristeza aguda de amor não correspondido. Acho que, afinal, você queria gostar de mim o tanto que eu gosto de você. Mas você não percebe, ou se recusa a perceber, que isso não é mais real. Sua devoção, o brilho que surgia em seus olhos quando me mirava, aquela coisa especial a mais - aquilo não existe mais. Você não me ama mais como antes. E não quer admitir isso - nem para mim, nem para você. Talvez nem nunca tenha me amado tanto assim. Mas eu percebi. Eu percebi que não sou mais tão especial assim para você. E agora isso magoa a mim. Você não mergulha de cabeça nesse relacionamento como eu, e eu achava que era por receio. Agora, acho que é por não querer, mesmo. Eu não sei no que você pensa, não sei o que você quer. Sua falta de verbalização é desconcertante. Talvez você não sinta a mesma paixão que eu. Talvez você não tenha sido feito para esses sentimentos tão arrebatadores e pulsantes quanto eu. Você não se defende. Você não defende o seu sentimento. Você não me defende. Você não liga para mim. Você não se importa comigo. Você me larga, você me deixa solta, desamparada. Desamparada. Sem calor, sem carinho. Sem uma palavra amorosa. Sem um gesto de compaixão, de romance, de atenção. Sozinha.

Eu não me importo de caminhar sozinha. Mas, se caminho com alguém ao meu lado, deve haver um motivo. Precisa haver um motivo. Não tenho por que dispender energia para te levar junto na minha jornada se você não tem nada a me acrescentar. Se você não vai dispender sua energia, também. 

Queria seu amor. Queria seu carinho. Queria seu esforço. É isso. Queria ver você se esforçar para fazer algo por mim. Mas você prefere sofrer sem fazer nada. Prefere me olhar indo embora, sem tomar nenhuma atitude. Prefere ser expectador do seu destino, agente passivo da sua própria vida. Eu sempre me culpo por ter ido embora. Mas foi sua culpa me deixar partir. E eu nunca havia pensado nisso até esse momento - e, agora, me sinto extremamente magoada por isso. Nossa, isso explica muita coisa. Isso explica o porquê de eu ter ressentimentos quanto ao passado, mesmo tendo sido eu a terminar o nosso relacionamento. Eu que terminei, mas eu que sofria. Eu que me sentia impotente, sem voz, sufocada. E você não gritou. Não bateu o pé. Não nos defendeu. Você me assistiu indo embora. E você ainda faz isso! Isso me magoa demais. Você me assiste, impassível, chorar pelo seu amor. Chorar pelo seu tempo, pelo seu esforço de me confortar. Chorar por um gesto de carinho. Eu só queria que você lutasse por nós. Que você lutasse por mim. Eu mereço alguém que lute por mim. Alguém que se esforce para estar ao meu lado. Alguém que me ouça, alguém que enxergue as minhas necessidades. Eu mereço ser vista, escutada, eu mereço ser tocada. Eu mereço alguém que sinta ser a sorte grande estar comigo. E que aja de acordo com esse sentimento.

E vejo, agora, que o que acontece não é que você gostava mais de mim no passado: é a simples repetição da mesma história. Sua rigidez. Sua inação. Seu medo. Sua paralisia. Você me assiste sofrer. Você me assiste gritar e chorar. Você não se comove. Você não se mexe. Se você age, é quando já é tarde demais. Quando já faz meses que fui embora sem olhar para trás. Se você age. Quando o estrago está feito, e já não tem mais volta. Quando já passei por tanto sofrimento, por tanta solidão, por tanta falta sua. Quando já não me importa mais.

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