Rebela-te

Viajo longe. Corro, vôo, saio de mim. Nos meus momentos mais sombrios, a realidade que me cerca é ressequida e estéril. Meu corpo não me leva longe, nem minhas crenças, nem as dos outros. Paredes me prendem, convenções me sufocam. Qual fera subjugada, sigo a linha pré-traçada; a alma opaca, o semblante carregado. Mas os olhos centelham de violência. Vai, minha mente. Voa longe, pela dor que é só minha. Olha as estrelas que brilham longe. Me fere com a ciência de sua distância. Cadê meus iguais? Sonho, e me machuco.
Minha realidade de ilusão, conhecido recanto, angústia antiga. Sentiste minha falta? Não senti a tua. E, no entanto, em ti me refugio, em lágrimas, magoada, ferida. Me acolhe, eu te peço. Deixa-me curtir, só, a minha melancolia. Mundo perfeito, abre tuas portas; e meu sofrimento vem tão somente da dolorosa consciência de que és inexoravelmente falso.
O preço que se paga por se ser quem é, alto que seja, não é tão alto quanto o do desalento contínuo de se preterir, dia após dia, se fazendo menor, mais quieto, mais invisível, menos incômodo, menos inconveniente. Um grito se forma, e quer irromper. Vem, meu amor, vem ser você. Descobre-te. Não te julga. Dói, e assusta, é verdade. Qual a tua escolha, amor? Não te encolhe mais, amor. Grita, e queima, e explode. Mais importante, amor meu, não peça desculpa. Nunca mais. Sem mais desculpas. Me mostra quem você é. Sem mais desculpas. Confia. Confie na divindade que você se tornou. 

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