Reencontro

Novamente, você veio a mim; e eu fui até você. Pensava em você no dia em que você ressurgiu para mim. Após tanto tempo, após tanta mágoa. Cinco anos nos separaram. E você não mudou nada. Ficou, talvez, mais adorável. Livre, curiosa, e um tanto desavisada, segui a passo largo para sua armadilha, como se meu cativo fosse você, e eu não corresse perigo. Mas você me confundiu, e eu não sei o que quero. Te encontrei para tentar descobrir. Mas você escapou pelos meus dedos, desvaneceu-se como que feito de ar, em um segundo. Tudo mudou em um segundo. O que você quer de mim?!
Te tenho tanto carinho, e pensei em você tantas vezes, com tanto carinho. Mas sabia não poder te falar sem te magoar, não poder te procurar sem saber o que eu queria. Não sei o que quero. Mas você mexeu em algo que eu julgava morto. Enregelado, sem circulação, pétreo, azulado. Algo que eu matei. Algo que eu queria que permanecesse morto. Inerte. Apagado. Morto qual cadáver no gelo. Parte de mim queria que assim sempre fosse, morto, insensível, indolor. Outra parte, mais funda, quase inconsciente, desejava esse sopro que a aquecesse, torna-se a corada e pulsante outra vez, sublime de delícias ímpares. Mas a dor... que dor. A dor da rejeição. A dor de não ser suficiente, de não ser desejada, de não ser atraente. De não ser querida. De ser desprezada. A dor mais funda, mais escura, mais gelada e mais aguda. A dor de ser só. Eu a senti, quando você se foi, após eu criar alguma expectativa. A expectativa de algum carinho, de um toque suave, de um beijo amoroso. Do meu sangue ser quente de novo, e, meu espírito, renovado, jovial pelo desejo, pela paixão. Em vez disso, pontada fria. Em mim, que estava quieta no meu canto, levando minha vida assexual e incompleta em paz. Pelo menos, havia paz. O desejo me perturba. Todos os novos aspectos que se fixavam em mim vacilam frente à tentação de cair no conforto da fábula da monogamia. Eva vs Lilith. Minha liberdade a custo da segurança conjugal. Ouvi com desejo a vida de seu irmão, casado, com um casal de gêmeos a caminho. Eu me casaria com você. Teria nossos filhos. Te amaria com lealdade até os nossos últimos dias. E sei que isso seria uma prisão. Tantas paixões por viver. Tantos homens, e tantas mulheres com quem me envolver. Tantas aventuras. Minha fidelidade a mim mesma. À minha individualidade. Aos meus desejos, mais ousados que os seus. Eu inevitavelmente te machucaria, ou me agrediria sufocando a mim mesma. Já trilhamos essa estrada.
No entanto, eu custo em te deixar. Você veio a mim, naquele dia. Eu já pensava em você com desejo de revê-lo. Nossas Energias se conversaram. O Grande Mistério nos reuniu. Eu sinto esse pulso no meu coração. Nem que seja para te dizer o quanto eu te adoro e colocar uma pedra final nesse assunto, para seguir em amizade sincera, ou sabe-se lá a que arranjo sua zona de conforto te permitiria chegar. Eu sinto que sou um sopro de ar fresco na sua vida. E você é a estabilidade que te faz meu porto seguro. Os novos ares podem se tornar vendavais, e, a estabilidade, um peso imobilizante. Saberíamos, dessa vez, equilibrar a balança? Meu coração inconsequente já se atira para você. Temo pela minha liberdade, pela identidade que lutei tanto para resgatar. Tenho medo de me perder, de me desrespeitar, de me desfigurar de novo. Não quero joguinhos. Quero sinceridade, honesta, crua. Carolina. Olhe para si. Esse homem não tem nenhum apego à Natureza. Você se deixa seduzir e fantasia se deixar aprisionar por um homem que já a fez infeliz. Iria ele te seguir por seus novos caminhos? Se embrenhar pelo Grande Mistério ao seu lado? Responda com sinceridade. A tentação do conforto e estabilidade é enorme. De uma vida para a qual você foi condicionada a vida inteira, por todos os canais existentes. É isso o que você quer, Carolina? Esqueça, pois, qualquer aventura. Ou mesmo aquilo que é perfeitamente normal. Nadar no fundo do mar. Acelerar o carro. Beber. Dormir fora. Qualquer traço de espontaneidade ou o mínimo risco que seja, dizimados. Você se deixará sufocar, de novo.
E creio que eu que não seja capaz de manter a sua amizade. Eu vou, inevitavelmente, te querer. Vamos nos machucar, mais uma vez. Mas, talvez, possamos nos amar, mais uma vez.

Comments

Popular Posts